Marketing de Conteúdo e SEO não podem ditar a sua produção de conteúdo

Faz muito tempo que eu não uso meus espaços para escrever, e boa parte do motivo foi uma bela crise existencial que, talvez, vários criadores já devem ter passado ao menos uma vez na vida.

“Será que o público se interessa pelo que eu produzo?”

Nessas horas recorrer à ferramentas como Answer The Public e Google Trends para descobrirmos os assuntos em alta e nos adaptar a eles. Da mesma forma, chegam as regras de Marketing de Conteúdo e SEO e botamos tudo no balaio.

  • Fazer uma lista numerada com opções que não terminem em 5 e 0? Só vamos!
  • Criar títulos que comecem com a palavra NÃO para engajar? NÃO pode faltar!
  • Prometer revelar um segredo que TODOS estão escondendo? Com certeza!

Assim entramos numa espiral de normas sobre como devemos produzir, quais palavras precisam constar, qual persona da persona da persona atingir, como deve ser o título ideal…

E aí temos um conteúdo feito pelo algoritmo, não por nós, criadores.

Não me leve a mal, não estou aqui para afirmar que precisamos abolir as boas práticas de marketing de conteúdo e SEO e voltar a escrever nossas ideias em pedra com símbolos cuneiformes tal qual os sumérios. Só defendo que isso não pode ditar a sua produção de conteúdo.

Pensa comigo: pessoas se conectam com pessoas, certo? E pessoas pensam de forma diversa, em várias técnicas e abordagens únicas. No entanto, o que o SEO e o marketing de conteúdo fazem, muitas vezes, é padronizar a criação.

SEO é uma ferramenta fantástica para buscar e filtrar conteúdo, porém, o que acontece quando SEO se torna obrigação para produzir conteúdo? Toneladas de criações idênticas e que servem apenas ao leitor hipotético, não ao criador.

E talvez nem ao leitor real

Um exemplo prático: pesquisei “como gerar tráfego orgânico no instagram” no Google e abri cada artigo para conferir e comparar o conteúdo. Esses são os títulos das duas primeiras páginas do Google, por ordem de ranqueamento e com meus comentários 100% parciais:

  1. Tráfego orgânico no Instagram: 7 dicas para aumentar o … (mereceu o primeiro lugar, tem muita personalidade e apresenta dicas variadas e relevantes);
  2. Tráfego orgânico: 8 dicas para atrair seguidores no Instagram (um pouco genérico);
  3. 10 maneiras para aumentar seu alcance orgânico no Instagram (além de genérico, a dica 8 é horrorosa);
  4. 5 formas de gerar tráfego orgânico para o Instagram – Baruk Soft (esse querido tem meus parabéns, conteúdo muito autêntico e personalizado);
  5. 5 dicas para aumentar engajamento orgânico no Instagram (genérico);
  6. Blog – 7 Dicas para tráfego orgânico no instagram – Aligator (não é tããããão genérico mas dá pra melhorar a formatação do texto);
  7. Tráfego orgânico: veja como colocar essa estratégia em seu … (meu deus são três títulos diferentes na mesma página e fala muito sem falar nada aprofundado, horroroso);
  8. Tráfego Orgânico: O Que é e Como Aumentar o do Seu Site (Neil Patel Eu Te Desafio A Formar Um Parágrafo Com Mais De Uma Frase E Parar De Abusar Da Capitalização Nos Títulos);
  9. Como Gerar Tráfego Orgânico no Instagram – Nerd Rico (bem raso)
  10. Amplie seu Tráfego Orgânico no Instagram e Fature uma … (COMPRAR SEGUIDORES???? AMADOS????);
  11. SEO tráfego orgânico: o que é e como aplicar – Click Textos (MARAVILHOSO E AINDA TEM UMA SEÇÃO INTEIRA SOBRE INSTAGRAM RECOMENDO MUITO)
  12. Como gerar tráfego orgânico com 9 técnicas infalíveis (não é sobre instagram, mas é muito bom e completo e ainda fez jabá pro site);
  13. Marketing no Instagram: como aumentar o tráfego (baixa escaneabilidade, horrível);
  14. Como gerar tráfego orgânico? – BeeOn (bem completo e interessante);
  15. 6 Dicas Para Aumentar o Trafego Orgânico Instagram (genérico);
  16. Como fazer tráfego pago no Instagram [GUIA PRÁTICO] (SORTEIO NÃO MEU QUERIDO).

Olha o padrão que eu ironizei no começo do texto aí.

Artigos sobre engajamento no Instagram são muito versáteis porque geralmente as pessoas têm muito interesse nisso. Entretanto, houve um abuso gigantesco do tema e assim tivemos uma avalanche de conteúdos idênticos, já que a mentalidade era reproduzir o que deu certo até a exaustão.

Fazendo um balanço geral das 16 páginas apresentadas:

  • seis artigos são genéricos e rasos;
  • três precisam melhorar a escaneabilidade ou parar de abusar da escaneabilidade (Neil Patel diga olá);
  • três dão dicas que vão contra os princípios do próprio Instagram, como comprar seguidores e fazer sorteios;
  • três são bons e completos, apesar de não serem sobre Instagram;
  • dois são excelentes e autênticos E FALAM DIRETAMENTE SOBRE INSTAGRAM.

Ou seja, de 16 páginas recomendadas pelo Google, só cinco fogem do padrão e apresentam uma linguagem ao mesmo tempo valiosa e personalizada. Eu diria que esses cinco realmente foram escritos por uma pessoa, os demais não tenho certeza.

Mesmo usando títulos padrão, alguns criadores saíram do previsível, enquanto boa parte apenas fez o que todo mundo já faz desde 2018. E se o conteúdo é igual a tudo que já foi feito, por que o usuário vai continuar a busca?

Por outro lado, ao fazer a mesma pesquisa no Medium, achei artigos mais variados e alguns bem legais, como Ativismo no Instagram (gostei bastante), 10 maneiras de fazer tráfego no Instagram Stories (mesmo sendo antigo é bem atual) e Por que (e como) parei de seguir todo mundo no Instagram—incluindo minha família, amigos e você (legal mas meio duvidoso em alguns pontos).

Medium e Google possuem algoritmos e ferramentas de SEO bem diferentes, mas percebe como o Google dá preferência para artigos padronizados e impessoais?

Num oceano de informação como a barra de busca, é interessante termos ferramentas que facilitam o processo de encontrar conteúdo. No entanto, quando nossa maior referência para produzir é tirar o máximo de identidade para padronizar tudo, quanto tempo vai demorar para que todo mundo fique de saco cheio de tanta porcaria genérica?

Meu conselho para você, criador, é o mesmo que venho seguido nos últimos tempos: use o SEO para facilitar a propagação do seu conteúdo, não como tutorial para produzir.

Ao considerar exclusivamente as boas práticas do marketing de conteúdo para criar, você se limita a seguir ordens de um conjunto de algoritmos. E os próprios estudos na área dizem que quanto mais genérico, menos conexão e engajamento.

O mesmo pessoal que prioriza padronização não recomenda padronização. Como diria Alanis Morissette: irônico, não acha?

Primeiro pense no que você realmente quer comunicar para o seu público. Depois faça pesquisas para saber se os seus interesses casam com os da galera que te acompanha. Por fim, use as ferramentas de SEO para descobrir como as pessoas pesquisam e se interessam pelo que você está falando.

Tiramos o foco do que querem que a gente faça e colocamos no que queremos fazer. Uma pequena mudança de perspectiva que muda toda a situação.

A título de curiosidade: fiz a mesma pesquisa no Bing, que já trouxe maior variedade de conteúdo. Depois joguei os termos no BuzzFeed e, como esperava, só artigos aleatórios e ablublué das ideia. Do jeito que eu gosto.

E aí, sobre o que você quer produzir agora? Segue essa dica que vai tirar um peso enorme das suas costas.

Um abraço, e a gente se lê por aí.

Publicado por Bellia Raimundo

Comunicador escritor e designer. Construo marcas e identidades, faço artigos de críticas sociais e escrevo histórias sobre amor.

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